"Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar"
( É Uma Partida De Futebol- Samuel Rosa e Nando Reis)
"Fanatismo.: fanático é aquele que segue cegamente uma doutrina ou partido, o termo não está ligado unicamente a doutrinas políticas ou religiosas, pois tudo aquilo que leva o indivíduo ao exagero é considerado como forma de fanatismo."
Chorar copiosamente porque 11 jogadores correram atrás de uma bola por noventa
minutos e não conseguiram um placar suficiente pra seguir num campeonato ou para
ganharu ma taça, certamente... é exagero. É fanatismo, portanto, declaro que sou fanática.
A minha vida não seria a mesma sem o futebol. Os esportes coletivos sempre me
atraíram não sei bem o porquê. Na verdade nunca me interessou a competição e a
obrigatoriedade de ter um vencedor. Os prêmios e os louros vão só para o primeiro
lugar e o "importante é participar" só mesmo no Xuxa Park, assim há sempre mais pessoas tristes e desamparadas do que felizes, e essa proporção não nunca me agradou. Perder, mas ter lutado até o fim para mim é mais enriquecedor do que a própria vitória que, assim como um elogio recebido, não te ensina nada novo.
Comecei a amar o esporte coletivo porque era na aula de Educação Física que ia encontrar o prazer, inexistente em aulas de Química e Matemática. Seria também a única aula que poderia falar alto sem ser repreendida e que melhor ainda, a nota era de participação. A contagem regressiva para dar o sinal para tal aula, pra mim, era dotada da mesma expectativa existente na contagem do reveillon, para o ano novo.
Alguns usavam o intervalo para lanchar, se encontrar com alunos de outras turmas, jogar conversa fora, fofocar. Eu não. Logo de manhã quando chegava já olhava no quadro de avisos de quem era a quadra. Alguma troca de quadra masculina no dia que teria que ser feminina era o bastante pra eu fazer um escarcéu até ter o "mando de campo" que nos era de direito. Pouco me importava se ia subir para aula completamente suada, com os cabelos emaranhados, os pés cheios de bolha e com fome, porque não dava tempo de jogar e comer. Como disse antes, não me importava muito se tinha ganhado todas as partidas, mas se os jogos femininos estava finalmente melhorando tecnicamente. Ser a melhor quando os outros não sabem jogar muito bem nunca deveria encher o ego de ninguém. Pelo menos sempre tive essa consciência. Dar o passe pra alguém fazer "aquele" gol sempre me deixou mais feliz do que um gol de minha autoria, principalmente porque eu não consigo ver o meu sorriso, o dos outros eu vejo. Inclusive, foi através dessas peladas no colégio que fiz algumas das que são as minhas melhores amigas hoje em dia. Também fiz as minhas "inimigas" nessa época que não vão muito com a minha cara até hoje, mas aí o problema é da falta de espírito esportivo delas, então nada posso fazer.
O meu amor pelo futebol foi aumentando, e como quem pratica um esporte não pode deixar de acompanhar aqueles que o praticam por profissão, seja para se aprimorar ou então simplesmente pelo prazer que sente de assistir, eu de repente entrei para o que é de fato o maior time do Brasil : time dos Fanáticos Por Futebol. Mas especificamente fanática pelo Botafogo. Meu pai é botafoguense mas tinha se desiludido com o meu irmão mais velho que só se interessava por vídeo-games e talvez hoje ainda, com 21 anos, ainda não saiba o que é tiro livre indireto. Ou seja, meu pai não se preocupou em passar a paixão alvinegra, e por incrível que pareça foi aí que ela me tomou completamente.
Passei então a ser aquela que gastava horas convencendo o pai cansado do trabalho a dirigir até o Caio Martins, em Niterói, e a que ouvia quando depois de tudo o Botafogo ainda perdia. Aquela que assistia aos jogos da Segunda divisão, rezando mais do que uma freira reza em meses, só durante o jogo. Os jogos no Luso-Brasileiro, Maracanã. Aquela primeira a ligar pra comprar os Pacotes do Brasileirão, a que sentava religiosamente na frente da TV às 16 horas de Domingo, ou as quartas-feiras a noite. A fanática.
Como falei no início, a conquista do título pra mim não é o mais importante. Claro que ver o Botafogo campeão carioca em 2006 no Maracanã foi impagável. Em 2007 mesmo morando fora do Brasil, acompanhar os jogos via rádio on line e constatar que podíamos sim lutar para ganhar títulos e não só para não cair no Brasileirão, foi muito animador. O baque que sofri na final do Campeonato Carioca de 2007, contra o Flamengo, foi um marco na minha vida e aumentou um amor que pra mim não tinha como aumentar mais. Aumentou também a minha antipatia pelo Flamengo, que também já era em nível elevado. Uma vitória sem mérito é pior que uma derrota.Por que jogar todos os valores no lixo para cultuar a vitória a qualquer preço, mesmo se ela não tiver sido limpa?!
Chorei sim. E não foi pouco, Porque o juiz anulou o gol legal do Dodo e ainda o expulsou. Chorei porque nosso time jogava muito melhor. Chorei porque o elenco e o técnico mereciam o título. Chorei porque meu pai, minha mãe e minha irmã choravam no Nextel, sentados nas cadeiras azuis do Maracanã. Chorei porque o Botafogo me faz sentir o que nenhum outro time me faz sentir. Um nó na garganta. Um arrepio quando a torcida canta, mesmo que ela seja
composta só por mim pela minha irmã mais alguns amigos meus e o Perivaldo.
Por que o culto a títulos se os verdadeiros torcedores aparecem nos tempos difíceis?! Por que não escolher pelo o que tal time te faz SENTIR ?! Excluindo os fanáticos, torcida em maior quantidade adere também a maior quantidade de pela-sacos que seguem a cultura de ter que torcer pra algum time. QUALQUER UM que se incomode o mínimo com o modismo no futebol acha difícil de aturar.
É burrice aderir as cores de um time que "não ganha nada, time de sofredor" que não é campeão do mundo e nem sequer bicampeão brasileiro. Mas, quantas vezes não lemos ou ouvimos que devemos seguir o nosso coração e não a razão ?! Sigo meu coração. Fogão, meu amor, minha paixão.
Minha vida não seria a mesma sem as emoções que esse esporte coletivo proporciona. Sem as emoções que transbordam quando se torce para um time de futebol, por amor. Troco fácil toda uma constelação pela estrela solitária. A única estrela que só deixará de brilhar se um dia a luz do Sol apagar.