sábado, 12 de julho de 2008

Quando mãe fala...

O primeiro passo para o arrependimento é dado quando não levo a sério o que minha mãe fala.
"Não deixe isso aí porque vai cair e quebrar". Eu acabo não tirando do lugar e bastam algumas horas para eu esbarrar naquilo e aquilo cair e quebrar.
"Não saia nunca sem dinheiro". Basta a primeira saída apressada pra eu esquecer o dinheiro e ter que rezar pra encontrar alguém conhecido para ter como voltar da faculdade.
"Minha filha não acenda o fogo e saia da cozinha pra fazer outra coisa porque você vai esquecer o fogo aceso e depois bau bau"
Perdi a conta de quantas vezes queimei a comida que deixava esquentando e de quantas vezes minha cozinha teria pego fogo se não fosse pela minha vó que sentia o cheiro de queimado e ia apagar as pressas.
" Não vai colocar um casaco?! Você vai morrer de frio!" Ha, a do casaco é clássica mas ninguém aprende. Saio sem o casaco e tremo de frio me arrependendo amargamente de ter mais de VINTE casacos no armário e não ter pego UM.

Ao longo dos meus 19 anos convivendo com a que é o maior exemplo daquela mãe perfeita descrita nos textos dos Dias das Mães, eu quebrei a cara muitas vezes e se ouvi "bem feito, eu te avisei" SEMPRE foi seguido do ombro pra eu chorar, e do ouvido pra ouvir minhas lamentações.

Implacável de novo, foi quando ela me avisou que eu ia pra faculdade e que a minha relação com meus amigos do colégio ia mudar. Eu simplesmente me recusava a sequer ouvir o início de uma conversa sobre tal mudança.
Eu tive um último ano no colégio per-fei-to. Fiz amizades per-fei-tas. As aulas eram de manhã, a tarde e até aos sábados. Fora isso ainda nos reuníamos em diversos eventos extra-curriculares: aniversários, outbacks, praia, piscinas, viagens e churrascos. O baque que sofri ao perder a convivênvia e ver cada um seguindo suas vidas sem se preocupar em manter contato foi muito forte.

Fui morar fora no primeiro semestre do ano que iria começar a faculdade e mesmo longe queria saber de tudo e todos. Receber notícias daqueles que eu amo e sentir a reciprocidade era melhor do que qualquer outra coisa. Infelizmente a reciprocidade não foi explícita como eu esperava e a verdade é que hoje parece que continuo na Califórnia. Quase não vejo o pessoal daquele ano maravilhoso mesmo todos morando no mesmo bairro.

A internet aproxima mas ao mesmo tempo distancia as pessoas. O comodismo de falar com alguém no msn substitui a presença física, substitui qualquer comunicação mais profunda.

ALGÚEM HÁ DE CONCORDAR comigo de que nada substitui a troca ao vivo de sorrisos, de energia. As manifestações para nos encontrarmos parte de mim na maioria das vezes, os telefonemas, os scraps, as mensagens, se não partirem de mim HA posso esperar sentada, posso deitar, rolar e NADA. De ninguém.

Minha mãe bem que me falou e mais uma vez nos ouvidos dela que eu vou me lamentar. Com certeza tais amigos não aguentam mais ouvir minhas lamúrias e minha indignação com o fato de ninguém dar notícia. Mas o problema é comigo já que eles estão fazendo nada mais nada menos do que o normal: seguindo suas vidas, fazendo novas amizades na faculdade,trilhando outros caminhos.... pois é, exatamente como a minha mãe me avisou.

Decidi que devo seguir meu caminho também sem pensar muito em como tão os outros. É difícil já que manter contato não requer NADA mais que UM MÍSERO minuto. Um "como vc vai" no scrapbook pode ser digitado em muito menos que isso. E ainda é de graça. A força de vontade diminui QUALQUER que seja a distância, e acredite se quiser, desse pessoal, tem gente que não mora NEM a UM quarteirão. =/

Quando mãe avisa, leve um pouco mais a sério. O arrependimento não mata mas corrói e consome suas energias durante todo o resto da vida.