quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Saber apanhar

"O mal de quase todos nós é que preferimos ser
arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica."

( Norman Vincent )



Aproveito o fato de ter recebido alguns bem explícitos essa semana, para escrever sobre o assunto: elogios.

Tenho sérios problemas ao recebê-los.

Primeiro porque quando eu recebo um, eu não sei o que dizer. "Obrigada" vem sempre seguido de uma cara inenarrável.

Segundo porque eu não suporto ficar sem graça e sem saber o que dizer.

Terceiro porque se eu não concordar, o que acontece normalmente, eu não consigo disfarçar, e falo algo que soa como grosseria ou falsa modéstia.

Em quarto e último lugar é que está pra nascer alguém que me convença de que algo que eu achei ruim, esteja bom, assim como algo que eu ache bom alguém me convença de que está ruim. Excluo dessas, obviamente, questões que dependem de gosto pessoal.

Elogios são descartáveis. Assim como você ter vivido o melhor dia da sua vida ontem, NÃO impede que hoje ou amanhã você viva o pior, não é garantido de forma alguma que você se manterá amanhã, do jeito que você está no momento do elogio. Ou então, que irá realizar no futuro outros feitos também dignos de elogios.

Não devoto sequer um minuto, dos 1440 que tenho no meu dia, valorizando opiniões alheias que não me ensinam nada novo. Um elogio ligado a minha aparência ou a algo material e, portanto, passageiro, não me ensina nada novo.

Só me importa um tipo de elogio: o que tem o meu consentimento. O que tem o meu consentimento? O proveniente de fontes RELEVANTES na minha vida, as que realmente se importam comigo. As pessoas que sabem se pronunciar num momento de aperto, insegurança ou desânimo. Aqueles das críticas construtivas. Os que me incentivam a melhorar, e ansear por elogios merecidos. Me-re-ci-dos.

Elogios não deveriam ser dirigidos a pessoas de aspectos físicos que se encaixam nos padrões formados pela sociedade. Genética, quilos, tamanho de nariz ou inteligência não deviam ser motivos para elogio. Perseverança, conquistas, humildade e caráter, sim. Esses aspectos sim, são de mérito pessoal, não são "privilégios" ou presentes da genética.

A nossa cultura incentiva as pessoas, principalmente as mulheres, a terem auto-estimas cada vez mais baixas e que necessitam dessa maneira, de alguém falando em seus ouvidos se algo está bom, se está bonita, se a roupa caiu bem, se é interessante, se está magra ou gorda. De auto, a estima não tem mais nada. Estima por vezes é alta, por outras, baixa, tem que depender do dia. Do DIA e só. Uma coisa não pode variar: tem que ser uma opinião PRÓPRIA indiferente a opinião alheia.

Gosto mesmo é de ouvir críticas. Se eu achá-las pertinentes, não tomam somente os 1440 minutos de um dia mas todos os minutos da minha vida. Martelam loucamente na cabeça de um ser perfeccionista. Elas que me ensinam.

Precisava de alguém que fosse tão exigente quanto eu. Que me perturbasse tanto quanto perturbo os outros quando SEI que eles podem melhorar. Que me criticasse visando MEU progresso e deixando de lado as vezes até o próprio progresso.

Como hoje mesmo disse Miguel Falabella " o segredo do trabalho nunca foi saber bater, e sim saber apanhar". Meus melhores professores foram e têm sido aqueles que criticam e não admitem choradeira e baboseira de levar para o lado pessoal. São os diretos, os realistas. São os que me mostram que quem está na chuva é para se molhar. E os que me fazem preferir, inclusive na vida extra-classe, a crítica ao elogio.