não ia supervalorizar acontecimentos desagradáveis e ignorar os momentos bons mesmo que tenham sido esmagadoramente em maior quantidade.
Não saberia o que é ficar as vezes reconstituindo em pensamento tanto uma situação e por isso não conseguir dormir.
Aceitaria que TODOS erram, tem defeitos e fraquezas e um vacilo, um deslize apenas, não estremeceria tanto toda uma relação de meses, de anos.
Conseguiria disfarçar mais, ou simplesmente não teria que disfarçar já que não lembraria de algo ou de alguém que me aborrecera ou que pior, me magoou.
Não seria rancorosa e nem teria mágoas.
Infelizmente minha memória não é curta. Em questão de 1 segundo, tudo pode mudar e NADA VOLTARÁ a ser como antes. Pelo simples fato de que NADA fará com que o tempo volte e que algo possa ser apagado. Viver, já dizia o poeta, é escrever sem borracha. Lamento, portanto, o grande valor que dou ao rascunho. Nem a melhor edição do mundo me faz esquecer aquilo que foi espontâneo e sem cálculos.
Ao longo da vida tenho aprendido cada vez mais que uma consciência leve na hora de deitar no travesseiro é essencial e impagável. E só isso que importa. Depois de tanto sofrer, entendi que existem pessoas e situações que fogem do meu controle e que cada um tem uma noção de tempo distinta. E mais, usa o tempo como quer.
Além de não ter memória curta, também supervalorizo o tempo. Vivo como se tivesse pra morrer. Estamos morrendo desde o dia que nascemos como todos sabem mais ignoram. Não aguento desperdício do bem mais precioso. Mas aprendi também que quase ninguém pensa assim e por isso passam anos sem falar com os pais, demoram anos para tomar uma decisão, se mantém anos em um cargo medíocre, não dão notícias frequentemente e quando dão, meses depois, agem como se todo aquele tempo não fosse nada. Quem lê o jornal de dois anos ou até de dois meses atrás com o mesmo interesse de quando lê o de hoje ou o de ontem? Ninguém. já não importa, já passou. O que importa é o hoje.
Se hoje alguém ganhou, não importa se esse mesmo alguém perdeu mil vezes ontem e vice versa. Se alguém hoje ficou pobre, não importa se ontem era rico e esbanjava. Se alguém hoje rouba, não importa se até ontem era um exemplo de pessoa. Se ontem você estava vivo e com saúde, não quer dizer que hoje estará. Enfim, a vida é o hoje.
Votos de confiança, de amor, de amizade, de fé, têm que ser renovados todos os dias. O pra sempre não existe e planos são só um talvez. Expresso com certa regularidade os meus sentimentos em relação aos que gosto e antes não me importava com a reciprocidade. A história da consciência martelava minha cabeça. Mas, cansei.
Minha consciência não pesa mais se o problema está nos outros. Para saber se está nos outros, eu busco na tal memória nada curta. Ela me mostra que o livre arbítrio de uns não é chamado livre por acaso e que só posso, como SEMPRE, lamentar, sentar e esperar o " desculpa" seguido de bla bla bla.
Para pessoas de memória como a minha, vale lembrar que mínimos fatos consumados abrem feridas e não há lágrima ( alheia ) que cure.