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Queria viver sem ter que ver ninguém partir. Sem ter que ir a um funeral, sem ter que me forçar a esquecer PESSOAS e momentos inesquecíveis. Gostaria de viver sem ter que procurar motivos e razões para aceitar que a presença física de um segundo para o outro pode não ser mais possível.
Queria que todos vivessem até quando bem entendessem. Com saúde. Queria que todos morressem de velhice e sem sofrer. Não queria que atletas ficassem incapacitados de treinar por problemas físicos, alguém de vista normal pudesse ficar cego ou que atrelado a velhice estivesse a decadência. Queria que não fosse possível uma pessoa saudável do nada ter um derrame ou sofrer um acidente de carro que deixasse sequelas ou lhe roubasse a vida.
Queria que acidentes e incidentes desagradáveis não existissem. É MUITO cruel pegar desprevenido não só a pessoa que sofre um acidente mas pior ainda, as pessoas que a amam e nada podem fazer. Seria sublime se existisse a garantia de que pais só pudessem morrer de velhice, depois de verem a formação de uma outra família através de seus filhos.
Queria depender emocionalmente menos de pessoas e mais de objetos e opiniões alheias.
Objetos estão aonde você quiser, na hora que você quiser, não te surpreendem, não decepcionam. Opiniões alheias levadas mais em conta resultariam em horas extras de tranqüilidade. Além de ficar mais satisfeita com a imagem refletida no espelho iria deixar de me cobrar tanto.
A imprevisibilidade da vida me aflige 24 horas por dia. O superficial nunca me atraiu e por isso meu envolvimento emocional é grande até com recém conhecidos. Constantemente penso em tudo que pode acontecer com as pessoas que conheço e sinto meu chão...sumir. Fecho os olhos rápido quando me vejo tomada de medo e penso "nas mãos de Deus".
Porém, a cada fato irreversível que causa algum dano ou perda irreparável, eu perco o chão de novo e ressurgem todas as questões sobre como enxergar a vida.
Infelizmente não sigo o pensamento de Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde cita que o menos mau é recordar já que na felicidade presente há uma gota da baba de Caim.
Só o que me importa é justamente a felicidade presente. A minha felicidade depende do presente. Se o presente não estiver bom, para mim de NADA valeu o passado. Migro ainda para o Futuro do Pretérito, e por buscar lutar contra um paradoxo e almejar uma utopia, entristeço.
Paradoxo de querer garantias justamente onde a única certeza é a falta de qualquer garantia, e a utopia da felicidade plena.
Só serei feliz de verdade quando puder entender o que é a vida e pra que que ela serve. Para ser levada a sério certamente não é, já que tudo que se constrói vai pro lixo no final. E vai MESMO. Isso sim é garantido.